O Méier, era ainda um ponto zero no Mapa do Rio de Janeiro e quem comandava a vida suburbana mais próxima de São Cristóvão, era o Engenho Novo. No inicio do séc. XVIII, na região do Méier, predominava um verdadeiro mar de cana de açúcar, onde os jesuítas eram os verdadeiros donos dessas terras na Fazenda do Engenho Novo na área do Méier. Em 14 de março de 1760, devido a um desentendimento com a Corte Portuguesa, foram expulsos do Brasil, em cumprimento do Alvará de 03 de setembro de 1759, os padres jesuítas, abandonavam suas terras e por ordem do Vice-Rei, as terras foram vendidas e leiloadas e divididas em 03 partes: ENGENHO VELHO, ENGENHO NOVO e SÃO CRISTÓVÃO.Os novos proprietários do Engenho Novo eram os senhores Manoel de Araújo Gomes, Manoel Joaquim da Silva Castro e Manoel Teixeira, que imediatamente trataram de explorar a região.

O ÍNICIO DE TUDO: A OCUPAÇÃO

A ocupação da Região Grande Méier começou quando Estácio de Sá doou aos jesuítas a extensa Sesmaria de Iguaçu. Esta Sesmaria englobava uma vasta extensão de terras que incluía os atuais bairros do Grande Méier e de outras Regiões, como Catumbi, Tijuca, Benfica e São Cristóvão. No entorno do atual bairro do Méier, os padres instalaram três engenhos de açúcar: Engenho Velho, Engenho Novo e São Cristóvão.

Os jesuítas utilizavam grande número de escravos em seus empreendimentos, o que impulsionou a ocupação territorial e a expansão demográfica da área. A colonização teve início nos territórios do Engenho Velho e do Engenho Novo, estendendo-se posteriormente aos núcleos que se formavam no entorno dos templos construídos pelos religiosos, como a Igreja de São Francisco Xavier (1625).

O CRESCIMENTO E A DESCOBERTA DE OURO

A construção, em 1720, da capela dedicada a São Miguel e N. Sa. da Conceição, no Engenho Novo, impulsionou o crescimento da área que ia do Engenho Novo e Benfica até o atual bairro Engenho de Dentro. Em 1759, quando o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas, as terras passaram às mãos de Manuel Gomes, Manuel da Silva e Manuel Teixeira. Com o objetivo de explorar a madeira e, posteriormente, para o cultivo de frutas e hortaliças, os três devastaram as matas ainda existentes, formando os grandes espaços vazios que atraíram posseiros e foreiros e permitiram a ocupação do solo.

Os escravos forros construíram barracos no Morro dos Pretos Forros, estendendo a ocupação ao entorno dos núcleos nascidos devido à influência religiosa. Mais tarde, a colonização foi acelerada com a descoberta de ouro nas proximidades da atual Rua Frei Fabiano, adensando-se nas encostas do conhecido Morro do Vintém, assim chamado popularmente em função do pagamento, com poucos vinténs, pelo trabalho de escravos e homens livres pobres, no garimpo de ouro.

O NASCIMENTO DO SUBÚRBIO CARIOCA, AS MUDANÇAS URBANAS

Em 1783, foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Novo. Pode-se dizer que os subúrbios cariocas nasceram no Engenho Novo, pois foi a partir daí que o progresso se acentuou. Dois outros bairros tiveram também grande importância para o crescimento da Região: Engenho de Dentro e São Francisco Xavier. Do século XVIII até o Segundo Império, a Região adensou-se gradativamente, tendo sido ocupada por chácaras e sítios. O comércio foi se desenvolvendo no entorno dos antigos engenhos, capelas foram implantadas e núcleos sub-urbanos surgiram com mais intensidade. Um desses locais de comércio, a Venda do Mateus, deu origem ao atual bairro do Lins de Vasconcelos, entre Engenho Novo e Engenho de Dentro.

A família Duque-Estrada Meyer teve um papel relevante no desenvolvimento da Região. Inicialmente, através da atuação do comendador Miguel João Meyer, português de origem alemã e um dos homens mais ricos da Cidade, no final do séc. XVIII. Posteriormente, já no Império, através das iniciativas de seu filho, o camarista Augusto Duque Estrada Meyer. Por suas funções e qualidades pessoais, o camarista tornou-se um nobre com grande influência junto ao Imperador Pedro II. Tendo herdado jóias do pai, estas lhe possibilitaram tornar-se grande proprietário de terras na Região. E sua visão progressista transformou a área, que perdeu o aspecto tipicamente suburbano do Segundo Império para assumir uma feição urbana.

OS DUQUE ESTRADAS

A Real Fazenda do Engenho Novo também foi vendida, arrematando também a fábrica de açúcar que existia no local. Uma boa porção de terras passa para as mãos do Capitão de Milícias José Paulo da Mata Duque Estradas, que as recebeu de herança de seu pai, que havia comprado do espólio dos padres. As terras recebidas se estendiam na sua testada, numa extensão de 800 braças, indo da Praia Pequena, atualmente Benfica, até Inhaúma ( enxurrada barrenta ), tendo ao fundo, duas léguas..

O início do desenvolvimento da região, foi incrementado pelos DUQUE ESTRADAS com vários roçados, desenvolvimento da criação de muares, galináceos, sendo construído um trapiche e uma olaria. D.Dulce Duque Estrada , solicita ao Vice-Rei, todos os territórios e alagadiços entre os fundos de sua quinta (fazenda em Portugal), a ” Quinta dos Duques “, no Engenho Novo, como também, o Mar de Manguinhos, pois sem eles, ficaria estrangulado, sem livre comércio com a cidade. Os mangues serviam para abastecer de lenha para a sua olaria e o rio Faria irá servir de acesso para as pequenas embarcações que carregavam e descarregavam no seu trapiche que ficava na Estrada Real de Santa Cruz, entre a Vieira Fazenda e Maria da Graça.

OS DUQUE ESTRADAS MEYER

Surgiram do casamento do Guarda Roupa do Paço, Comendador Miguel João Meyer com D.Jeronima Duque Estrada. Português de origem alemã, homem de boa letra , deve ter chegado ao Rio de Janeiro antes de D.João VI, porque ao morrer em 1833, seu primogênito, o Camarista, tinha pouco mais de 30 anos. Só deixou para os seus herdeiros em matéria de imóveis, 04 casebres na Vila Real da Praia Grande, hoje, Niterói, sua fortuna era constituída sobretudo em jóias, roupas, moveis, na sua casa, na Rua Formosa, hoje, General Caldwell. Devemos destacar em seu testamento também:

Coleção de jóias, incluindo uma pluma de brilhantes no valor de 6 contos, sendo avaliada em 36 contos e 700 mil réis;.

42 escravos que o serviam na condição de Guarda Roupa Real, no valor de 19 contos e 250 mil réis;

Fardas bordadas a ouro, dezenas de camisas e calças coloridas e as roupas de suas famílias, calculadas em 7 contos e 700 mil réis;

Seu enterro, ficou em 500 mil réis, com a catacumba numa igreja e caixão de madeira com asas douradas, exposto em casa todos decorado à caráter numa época em que geralmente, os mortos eram enterrados envoltos nos hábitos das Irmandades a que pertenciam, vários de seus escravos menores, foram enterrados em panos brancos em Inhaúma, deixando jóias no valor de centenas de mil réis.

OS CAMARISTA MEYER

Os anos foram passando, e por volta de 1870 no lugar que se conhece como Rua Camarista Meyer, surge uma fazenda que foi doada pelo Imperador D.Pedro II ao “Gentilhome”, um senhor da maioria ou da boa porção das terras de D.Dulce Duque Estrada que tinha um parentesco distante, Comendador AUGUSTO DUQUE ESTRADA MEYER, o CAMARISTA DO PAÇO, acompanhante de D.Pedro II em freqüentes cerimônias oficiais, que deu o nome de SÃO FRANCISCO DE PAULA, inscrito no livro de registro de terras da Freguesia de São Tiago de Inhaúma, sob o nº 68, fls 37 – vs, com data de 28 de fevereiro de 1856.

Esta propriedade começava na cidade, indo até o Engenho de Dentro, na atual rua Dias da Cruz, a partir daí até um ponto com um marco de pedras, junto a Serra dos Pretos Forros, seguindo em linha reta para terminar no Caminho de Jacarepaguá. Cento e três contos era o preço de suas terras ainda não vendidas, o que valeria na ocasião, a mobília de jacarandá de 18 peças da sua casa no alto da mesma rua – Camarista Meyer, 100 mil réis e uma mesa redonda de magno no valor de 3 mil réis, um espelho grande com aparador no valor de 10 mil réis, um tilbury usado no valor de 20 mil réis, um cavalo russo em bom estado no valor de 5 mil réis, um alfinete para peito com brilhantes no valor de 200 mil réis.

Entre os seus herdeiros, foram abertas ruas em seus domínios e até a presente data, muitas dessas ruas, ainda existem no bairro, entre eles: Maria Paula – filha; Carolina Meyer – filha; Francisca Meyer – filha (atualmente, Catulo Cearense); Joaquim Meyer – filho; Gustavo Miguel Duque Estrada Meyer – filho; Frederico Meyer – filho; Joaquina Rosa – esposa; Eulina Ribeiro – neta; Venâncio Ribeiro – esposo da neta; Adelaide – irmã;

A MORTE DO CAMARISTA MEYER E A LINHA FÉRREA, A ORIGEM DO NOME AO BAIRRO

Com seus extensos campos, a Região tornara-se importante para o crescimento da Cidade, no início por atender ao transporte coletivo – carruagens e bondes à tração animal – e mais tarde, por abastecer as tropas na Guerra do Paraguai. A partir da segunda metade do século XIX, quando começaram a circular os trens da Estrada de Ferro Pedro II, em 1858, os subúrbios foram definitivamente ocupados, ao longo da linha férrea e no entorno das estações.

Em 1882, morreu o CAMARISTA MEYER, no momento em que os trens atravessavam suas terras, mas ainda não paravam nelas regularmente. Existia uma parada mais adiante na Chácara dos Bastos.

Na passagem do Caxamby, foi designado um guarda chamado José Francisco que não tinha a perna direita, usando uma de pau, onde a população passou a chamá-la de CANCELA DO PERNA DE PAU, que ligava os dois lados da via férrea passando pelos terrenos dos Doutores Miguel e Joaquim Meyer, atualmente, são as ruas Medina e Coração de Maria, onde neste trecho, foi aberto uma passagem, em que o comboio, raramente fazia uma pausa, construindo mais tarde a Estação de Todos os Santos.

Com a inauguração da ESTRADA DE FERRO D.PEDRO II, em 28 de março de 1858, onde com uma só viagem de ida e volta entre o Campo de Santana e Moxambamba, atualmente Nova Iguaçu, os seus chamados Serviços Suburbanos teriam inicio 2 anos mais tarde, em 1860.A parada do Engenho Novo em 1858, ocorreu quando foi inaugurada o 1º trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil, que era única. Os trens na época faziam a linha de ponto inicial até Cascadura.

Com o passar do tempo, o núcleo populacional foi crescendo junto à linha férrea e a partir daí, outras estações intermediárias foram surgindo, neste trecho, chegou a ter 17 estações. As terras foram loteadas e as ruas pantanosas foram sendo saneadas. Os bairros surgiam agora com uma feição mais urbana: Lins, Engenho Novo, Engenho de Dentro e Piedade, entre outros. Os nomes muitas vezes eram homenagens a importantes proprietários de chácaras na Região. A Linha Auxiliar (E. F. Rio Douro) incrementou a ocupação em outro sentido e de forma mais irregular, permitindo o aparecimento dos atuais bairros do Cachambi, Maria da Graça e Del Castilho, os dois últimos integrados atualmente à vizinha Região Leopoldina.

Os responsáveis pela ferrovia se interessaram pela criação de outra estação, assim sendo, as terras para construção desta outra estação foram doadas pelos filhos do CAMARISTA MEYER. Esta transmissão foi firmada no TABELIÃO FRANCISCO BUSTAMANTE DE SÁ, constando uma clausula exigido pela família MEYER, que o nome da estação teria que ser MEYER.

Em 1884, Dom Pedro II presenteou um amigo com parte das terras dando para a familia, a Freguesia do Engenho Novo, indo da Quinta Imperial até Inhaúma, da Praia Pequena até a Praça D.Jeronima, no Engenho de Dentro ( desconhecida ), a partir daí até o final da Estrada Inácio Dias. Esse amigo tinha o nome de Augusto Duque Estrada Meyer (filho do comendador Miguel João Meyer, português de origem alemã e um dos homens mais ricos da cidade, no final do século XVIII), conhecido como Camarista Meyer por ter livre acesso às Câmaras do Palácio Imperial.

Por sua causa, a região ficou conhecida como “Meyer” (pronuncia-se “Maier”), e depois de um tempo os moradores aportuguesaram para Méier. Os primeiros habitantes da região eram escravos fugidos que formaram quilombos na Serra dos Pretos-Forros.

Em 13 de maio de 1889, uma segunda-feira chuvosa, após um domingo de muito sol e calor, foi inaugurada a PARADA DO MEYER. Na época, o engenheiro responsável e diretor da Estrada de Ferro, era José Embanch da Câmara. A primeira composição que parou na Nova estação, foi puxada pela maquina “PRINCEZA IMPERIAL”, nome que lhe foi dado em homenagem a princesa Isabel que recebia de todo o Brasil, o agradecimento pela Abolição do Cativeiro.

A VALORIZAÇÃO DAS TERRAS, LIDERENÇA E OS PROJETOS GRANDIOSOS

A valorização das terras foi inevitável. Um tal de Senhor Coutinho, dono de uma padaria no Engenho Novo e por herança, dono de algumas terras do Meyer, resolveu loteá-las e dias antes da inauguração da nova parada, publicou no Jornal ”GAZETA DE NOTÍCIAS” dando inicio ao bairro.

Conheça o Rio de Janeiro

A historia da região do Meier no Rio de Janeiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *